Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ
Dia 9 de novembro de 2016 ● Seropédica ● Salão Azul Prédio Central (P1) ● UFRRJ
Apresentação
O Lugar e sua redefinição frente ao Mundo:
     "Neste sentido, o lugar pode ser
visto como passivo, mas como globalmente ativo, e nele a globalização não pode ser
enxergada apenas como fábula. O mundo, nas condições atuais, visto como um todo,
é nosso estranho. O lugar, nosso próximo, restitui-nos o mundo: se este pode se
esconder pela sua essência, não pode fazê-lo pela sua existência. No lugar, estamos
condenados a conhecer o mundo pelo que ele já é, mas, também, pelo que ainda não
é. O futuro, e não o passado, torna-se a nossa âncora.
Vivemos todos estes séculos acorrentados à ideia de que o passado seria o
cimento das sociedades e o seu fio condutor para o porvir. Custa-nos, agora, admitir
que esses papéis possam ser representados pelo futuro. É que sempre trabalhamos
muito mais com a ideia de recursos, que com a ideia de projeto. Quem sabe, as fases
precedentes da História não permitiam a realização de utopias. Mas, hoje, com o
progresso científico e técnico e a empiricização da totalidade, o mundo nos garante
que há varias formas possíveis ― e viáveis ― de construir futuros.
O lugar é a oportunidade do evento. E este, ao se tornar espaço, ainda que não
perca suas marcas de origem, ganha características locais. É como se a flecha do
tempo se entortasse no contacto com o lugar. O evento é, ao mesmo tempo,
deformante e deformado. Por isso fala-se na imprevisibilidade do evento, a que
Ricoeur chama de autonomia, a possibilidade, no lugar, de construir uma história das
ações que seja diferente do projeto dos atores hegemônicos. É esse o grande papel do
lugar na produção da história, e apontá-lo é a grande tarefa dos geógrafos neste fim de século."
SANTOS, Milton. Da Totalidade ao Lugar. São Paulo: EDUSP, 2012, p. 162-163