Do Brasil para Portugal: conheça aqui o perfil de Vanessa Ferreira, do PET Física

por Marieta Keller, Beatriz Santana e Juan Melo

 

Vanessa Ferreira. Fotos: Beatriz Santana.

 

A conquista de uma vaga, em uma universidade pública, é um grande desafio para muitos estudantes brasileiros. Ao entrar, o próximo obstáculo é encontrar projetos que ofereçam recursos mínimos para aplicação do conhecimento teórico na prática. O Programa de Educação Tutorial (PET) é um desses espaços, criados para apoiar atividades acadêmicas que integram ensino, pesquisa e extensão e permitem a alunos, como a estudante do curso de Física  da UFRRJ, Vanessa Cristina da Silva Ferreira,  transferir seus conhecimentos do plano teórico para o prático.

Vanessa Ferreira,  34 anos, é moradora  de Realengo -RJ, participante do PET Física desde 2015. O ano de 2017 foi especial para ela. Em função de  ter participado de um processo seletivo de um edital  do Santander Universidades, em 2016,  consegui uma bolsa para permanecer na cidade do Porto, em Portugal, por um ano, no período de 4/2/2017 a 2/02/2018.

 

Vanessa explica o quanto a viagem a Portugal foi rica para seu aperfeiçoamento profissional. Fotos: Beatriz Santana.

Era  um projeto feito para durar  6 meses, período coberto pelo recurso dado pelo banco. Mas, pela relevância científica,  foi desenvolvido em um (1) ano, mesmo sem a bolsa nos meses seguintes. Segundo Vanessa, foi preciso ter feito muita economia no período, pra se manter lá. Foi a manutenção da bolsa PET, do Brasil, que também a ajudou nesse processo, já que sua mãe, funcionária do estado do Rio de Janeiro, teve atraso no recebimento do seu salário, nesse período.  “Quando fazemos intercâmbio há sim o objetivo de ter um contato com outras culturas e experiências que ampliem nosso conhecimentos e percepções, por isso acredito que, se o programa visa ensino, pesquisa e extensão e a educação tutorial, porque a pesquisa e extensão devem se limitar ao território nacional?  Se temos professores que viajam e vão como professores visitantes a outros países ganhar experiência e aprender novas metodologias de ensino e pesquisa porque nós alunos não podemos fazer o mesmo? Sem a bolsa do PET durante esse período eu sinceramente não acredito que eu teria ficado um ano lá. Realmente, sem o PET eu não teria como economizar e ficar seis meses a mais”, desabada a discente.

No Brasil, antes da viagem,  com a ajuda na UFRRJ do professor  Wagner Cabral dos Santos, do DLC (Departamento de Letras e Comunicação), criou sinais em Libras,  ligados à cinemática, como uma experiência que anteciparia as pesquisas que viriam. Em Portugal,  cursou disciplinas junto a alunos do mestrado em “Ensino de Física” da Universidade do Porto, a convite do professor Paulo Simião, do Departamento de Física e Astronomia. Lá  também desenvolveu um jogo adaptado, para pessoas com deficiência visual, para estímulo cognitivo e uma maquete tátil-visual para ensino de interferência entre ondas. A aluna conta que, no projeto, criou novos sinais e corrigiu designações sobre alguns planetas do sistema solar, em  LGP  (Língua de Sinais Portuguesa),  com a equipe do Spreadthesign Portugal.

A aluna conta ter sido muito rica essa experiência. Organizou e apresentou trabalhos em um  evento sobre Inclusão, junto com colegas do departamento. “Para o evento, convidei o aluno surdocego para relatar experiência e dificuldades no ensino superior, e depois acabei sendo monitora dele na disciplina mecânica, o professor Paulo dava as aulas teóricas e eu eu as teórico-prática “, relata.

Também participou do  grupo de investigação em ensino e divulgação da física- GIEDIF.  Por ser membro, fez o curso de  LGP, que foi pago pelo grupo.

Maquete e jogo Fliz-Mix.

Como surgiu o projeto: raízes e percepções

Vanessa explica que sua sensibilidade para o assunto aconteceu após uma experiência na infância. “Sempre quis aprender Libras, mas foi uma coisa muito aleatória. Conheci um menino surdo na infância e me incomodava não consegui falar com ele. Então sempre tive esse desejo de aprender e nunca tive uma  oportunidade”, explica.  Quando veio para a UFRRJ, em função do ensino de Libras ser obrigatório às licenciaturas, a universitária cursou a disciplina e se encantou.

Em relação ao Jogo FlixMix, a petiana diz que o objetivo era trazer, para os alunos NEEs  (Alunos com Necessidades Educacionais Específicas), jogos que desenvolvessem suas capacidades cognitivas, até um ponto em  que princípios físicos fossem compreensíveis.

A falta de opção em jogos de capacitação torna algumas informações do conteúdo abstratas, dificultando o aprendizado dos alunos cegos, por exemplo. Vanessa explicou que a  proposta foi desmistificar a ideia da maquete como um material à parte. Para ela, o recurso deve ser encarado como um utensílio de complemento que alcança alunos cegos e surdos igualmente. A maquete tem a opção de ser tocada e visualizada, essas possibilidades traz de volta a dinâmica do conteúdo, tendo em vista que os exemplos físicos são realizados por meio de ilustrações e alunos cegos perdem isso.

Futuro

Para aqueles que também sonham em expandir suas pesquisas, para além do território brasileiro, e encontra desafios, a petiana, em seu 10º período, revela o segredo. “Tudo dependeu de acreditar, uma coisa que eu mesma, no início, não fiz, até porque, eu vim do EJA  (Ensino de Jovens e Adultos), não tenho condições financeiras para fazer intercâmbio, tenho 34 anos. Eu achei que não ia ganhar a bolsa, achei que dariam preferência a alguém que fosse mais novo, mas acabei conseguindo e as pessoas acabaram me ajudando muito também, então foi uma questão de acreditar e achar que era o caminho certo ”, descreveu, com entusiasmo, a estudante.

Vanessa com o trabalho em forma de painel, apresentado no V Ceduce, na UFF, em companhia da sua mãe, Ceres Barbosa da Silva.

Esse ano, Vanessa já apresentou trabalho sobre  a temática da inclusão, com o título “Percebendo a imagem do som através da ciências em recortes animados”, no  evento  no V CEDUCE (  Colóquio Internacional Educação, Cidadania e Exclusão), que ocorreu de 28 a 20 de Junho, na UFF, em Niterói -RJ.

Vanessa está prestes a se formar e terá como tema de monografia os assuntos estudados em Portugal. Seus planos para o futuro:  pretende, em seguida, se verticalizar para a pós-graduação stricto sensu e, quem sabe, fazer um mestrado e doutorado pelas terras portuguesas. Contatos não lhe faltam.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.