Exposição realizada pelo PET Dimensões da Linguagem, junto ao projeto Identidades, debateu questões sobre a negritude e reuniu 25 artistas, além de 70 observadores no pátio do Instituto de Ciências Humanas e Sociais.
Por Beatriz Santana e Carina Castro Alves
Representatividade, resistência e autoconhecimento. Essas foram algumas das temáticas apresentadas na Primeira mostra de Arte e Cultura Negra Ruralina. O evento, idealizado pelo Pet Dimensões em conjunto ao projeto Identidades, aconteceu do dia 22 agosto, no pátio do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), das 8 às 17 horas da tarde e contou com a participação de 25 artistas e 70 observadores.
Aquarela e giz de Larissa Braz
Jhonatan Bento, aluno de relações Internacionais e integrante do Pet Dimensões, é um dos idealizadores da mostra. O jovem de 21 anos conta que a proposta de fazer o evento surgiu em dezembro de 2018, e o objetivo principal foi mostrar o potencial e o valor de produção dos jovens artistas negros. “Artistas negros, na maioria dos casos, são desvalorizados, colocados à margem da produção artística, com essa mostrar queremos esclarecer que produzimos quadros tão bons quanto Van Gogh”, comentou Jhonatan.
Aos 18 anos, Bruna Maciel é uma duas artistas que trouxeram seu protesto em forma de pintura. ”Mulheres negras sempre são representadas em ambientes de trabalho, como cozinhas, ou como imagem de força e resistência. Eu gosto de pintar esses corpos negros femininos em momentos de tranquilidade e lazer”, comentou Bruna. A estudante produz quadros em aquarela, tinta acrílica ou giz e seus temas são variados, desde críticas aos tabus sobre corpos femininos, as causas indígenas até a representação de corpos negros no cotidiano.
Autorretrato feito com grafite de Thayna Dias
Thayna Dias, conhecida artisticamente como Nanã Crispim, também fez parte do time das pintoras em protesto. A jovem de 22 anos é estudante de belas artes na Rural e suas telas são feitas de grafite com aquarelas. Questões sobre mulheres gordas e negras entram na lista dos debates abordados por Nanã que às vezes explora até a arte do autorretrato. “É o que eu mais tenho feito ultimamente (o autorretrato). Foi a forma que encontrei para conhecer melhor meu próprio traço.” “Aliás eu gosto de pintar corpos gordos, gosto das nossas curvas. Comecei a retratar esse tema devido a uma inquietação nas aulas de desenho. Eu via mulheres que eu não me identificava” admitiu Nanã Crispim, exibindo uma das artes que esboçam seu próprio perfil.
Ainda dentro da pintura, surge a figura do artista de 33 anos, conhecido como Shaulin. O goiano, estudante de agronomia, é apaixonado por artes e suas produções são feitas em telas de algodão cru que ele mesmo prepara. Shaulin retrata por meio da pintura a Influência do candomblé nos diferentes ritmos brasileiros (forró, samba, maracatu, entre outros) além de debater questões da escravidão/ diáspora africana em quadros coloridos com cenários regionais.
O teatro, no entanto, foi representado pelos artistas performances Ruan Bertolini (20) e Elisa Barbosa (20). Em um monólogo chamado “O palhaço ansioso” de aproximadamente três minuto e meio, Ruan interpreta Roberto, um rapaz jovem que, por questões financeiras, desiste do seu sonho de ser fisiologista vegetal e passa a trabalhar como animador de festa. A encenação exibe momentos de conflitos pessoais, preconceitos e frustrações encarados pelo personagem.
A artista Elisa Barbosa, por sua vez, explorou seu talento teatral com a apresentação de uma cena curta chamada “Sala de Jantar”. Deitada em uma mesa com verduras, cobrindo todo seu corpo, a jovem estudante posou por duas horas ao som da canção de Elza Soares “A carne mais barata do mercado”. Segundo Elisa, o objetivo da cena é chocar o observador e criticar, de forma literal, a ideia da sociedade de se alimentar do negro, seja da sua força de trabalho, do seu corpo ou ideias “Gosto de causar o incômodo, é para tocar na ferida .
Apresentação musical de Stephanie Cribb
Stephanie Cribb durante apresentação
A música e a poesia ficaram na responsabilidade de Stephanie Cribb (24) e Luana Galoni (23), respectivamente. Ao som de pop e R&B Stephanie, aluna de letras, agitou os corredores do ICHS, cantando Destiny’s Child, entre outras canções.
Luana Galoni, estudante de psicologia, no entanto, recitou duas poesias de sua própria autoria. A primeira chamada “O dia que eu virei negra”, a qual a autora conta sua experiência de autoconhecimento e identificação como mulher preta, depois de ingressar na faculdade, e o segundo texto, chamado “Ao meu amor retinto”, em que Luana debate o privilégio de ser “o mais ou menos da paleta escura”, refletindo sobre os previlégio de ser uma negra de cor mais clara.
Poetisa Luana Galoni durante uma de suas apresentações
A Primeira Mostra de Arte e Cultura Negra Ruralina foi encerrada com chave de ouro, após a apresentação da dupla Vanessa Freitas (21) e Marcos Braz (27). Os bailarinos trouxeram para a tarde uma apresentação de samba em um ritmo mais lento. Segundo Vanessa, o objetivo da apresentação era transparecer a força e a importância do amor mútuo entre os negros. “Queríamos fugir do exótico. A ideia era quebrar o paradigma mesmo, naquele samba de rebolar e jogar o cabelo que vemos em escolas de samba. A intenção era trazer para a exposição uma cena mais afetuosa, que explorasse a importância do amor recíproco entre os próprios negros e dos negros e suas raízes ” acrescentou Vanessa.
Dupla Vanessa Freitas e Marcos Braz bailarinos do Coletivo de dança Ruralina