Conheça a história de Fabíola Cunha, tutora do PET Engenharia Química, que deixará a função no final de 2018, após 6 anos de trabalho com ensino, pesquisa e extensão no programa, além de ter sido uma das cabeças centrais do CLAA (Comitê Local de Acompanhamento e Avaliação dos Grupos PET UFRRJ)
Por Larissa Guedes

A Professora Dr.ª Fabíola Cunha, na sua sala dentro do Departamento de Engenharia Química, no Instituto de Tecnologia da UFRRJ.
O início de tudo
Fabíola Oliveira da Cunha, 44 anos, é formada em Engenharia Química pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal de São Carlos e doutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
A relação dela de intimidade com a química, no entanto, já havia sido plantada desde antes de prestar o vestibular. Em 1990, no auge dos seus recém-completos 16 anos, durante o ensino médio, Fabíola decidiu fazer curso técnico em química no SENAI, atualmente o maior centro latino-americano de produção de conhecimento da cadeia produtiva têxtil e de confecção da área química.
O seu sonho de cursar engenharia surgiu com a ideia que ela fazia da graduação como um meio de botar a mão na massa, através de uma multiplicidade das ciências, fazendo a química acontecer dentro desses ambientes.
Pelo curso pré-vestibular, ela tomou conhecimento da Universidade Rural e logo se inscreveu e conseguiu passar para o tão almejado curso de Engenharia Química. Veio, então, morar dentro do campus em Seropédica, como uma forma de explorar e conhecer a Universidade nos seus mínimos aspectos.
“Mais do que a relação de convívio sala de aula e laboratório, eu tive a oportunidade de crescer tendo independência associada a mim mesma”, conta Fabíola.
Entretanto, em uma época em que o contexto político-econômico era de crise, ela não teve, ao longo da graduação, possibilidades de atividades extracurriculares, como bolsas de iniciação científica ou bolsas para estágio.
Ao terminar a graduação, em 1996, ela buscou ingressar direto para o mestrado na Universidade de São Carlos. Quando terminou, em 1999, decidiu, enfim, retornar ao Rio de Janeiro devido a uma série de questões particulares de família.
De volta, a professora foi até a PUC– RJse apresentar com a intenção de dar aulas na instituição. “Como a vida prega peças na gente o tempo todo, quando eu cheguei na PUC vi um anúncio em um mural que solicitava alunos de Engenharia Química e consegui uma bolsa de doutorado via CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)”, conta satisfeita. Fabíola cursou o doutoramento de 2000 a 2004 na instituição.
Nesse meio tempo, continuou tentando concursos públicos em busca de uma vaga no mercado. Foi então, que, em um desses concursos, para a Polícia Civil no ano de 2000, ela foi aprovada e assumiu o cargo de perita criminal do Estado do Rio de Janeiro, trabalhando principalmente com a área de entorpecentes químicos.
Sempre curiosa, Fabíola trabalhava em ritmo de plantões e tinha vontade de desenvolver os diferentes aspectos relacionados à investigação criminal que envolviam a perícia, desde a área de documentação até a de armas de fogo.
Influenciada por uma amiga que a questionou o porquê de ela não dar aulas, Fabíola passou a imaginar como seria desenvolver a vida na carreira acadêmica. Para ela, havia naquele momento a possibilidade de conciliar a atividade com a carreira dentro da Perícia Criminal, para completar financeiramente sua renda. Fabíola começou lecionando sobre a área da perícia com foco em Corrosão e Química Analítica Quantitativa, na Escola Técnica Rezende Rammel, no Lins.

Fabíola, em entrevista para o Portal dos Grupos PET.
Logo em seguida, passou a lecionar, também, no Centro Universitário Celso Lisboa (RJ), no curso de Engenharia Ambiental e na Fundação Técnico Educacional Souza Marques, no curso de Química.
Em 2009, o Ministério da Educação, através do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), abriu novos concursos públicos para docentes na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Motivada por seu marido, que já trabalhava no local, Fabíola tentou a vaga para a Universidade que a havia acolhido desde seus 16 anos. Ela passou no concurso, pediu exoneração da Polícia Civil e começou a trabalhar no final do período letivo daquele ano, dando aula para o curso de Engenharia de Alimentos.
No ano seguinte, com o aumento da oferta de disciplinas, ela abraçou o curso e os alunos, dando início a uma nova fase na sua vida profissional e pessoal.
A criação do PET Engenharia Química
E assim foi até que, durante a extensa greve da Universidade no ano de 2012, o Ministério da Educação lançou um edital com a possibilidade de criação de novos grupos do Programa de Educação Tutorial destinado à área das engenharias.
Em um reunião de departamento, Fabíola foi escolhida para desenvolver esse projeto auxiliada pela Professora Dilma Alves Costa, que havia sido sua professora ao longo da graduação e se encontra atualmente aposentada. Com respaldo institucional do departamento do qual faz parte e da Pró-Reitoria de Graduação, ela submeteu os documentos necessários e realizou a inscrição.
Para Fabíola, que pesquisa a reciclagem de materiais eletroeletrônicos, o que lhe instiga na metodologia de ensino, pesquisa e extensão do PET é justamente a colocação do aluno em uma posição de autonomia, que exige dele proatividade e infraestrutura oferecida em grupo, alinhando-se aos fenômenos da engenharia química.
“O desenvolvimento do aluno dentro do PET é fantástico, não só como ator da pesquisa, mas como elemento proativo que pensa e que tem autonomia para gerir atividades e até mesmo sua própria vida”, afirma ela.
O grupo PET Engenharia Química da UFRRJ nasceu com a tutoria de Fabíola, em abril de 2013, com a oferta de 12 bolsas. O programa foi apresentado, no primeiro momento, para o respectivo curso, no SIMPETEC (Simpósio do Grupo PET Engenharia Química com os Discentes do Curso). O evento foi criado para troca de anseios e informações e recebimento das demandas dos discentes como visitas técnicas, melhoria das aulas práticas e mais ofertas de palestras para complementar a formação.
Em 2014, Fabíola precisou se ausentar fisicamente da tutoria do PET devido à sua licença maternidade e foi substituída pela Professora Dilma Alves Costa durante esse período.
Desde o ano mencionado, o PET Engenharia Química também participa da organização da Semana Acadêmica do curso, juntamente com o envolvimento dos alunos da graduação, além de ser responsável pela questão do fomento de infraestrutura para outros eventos acadêmicos, tais como minicursos e palestras.
Fabíola acredita que sua missão junto ao PET é fazer o trabalho funcionar como uma vitrine para os alunos do curso saberem o que está sendo desenvolvido e despertar o interesse de se juntar ao grupo.
Como as atividades do PET envolvem ensino, pesquisa e extensão, atualmente a professora Fabíola não leciona no laboratório. No período atual, ela ministra apenas as disciplinas de Engenharia do Meio Ambiente e Fundamentos da Engenharia de Processos, além de um curso de corrosão para Engenharia de Materiais.
“Meu projeto atual é desenvolver as práticas didático pedagógicas em sua plenitude. O legado maior que eu quero deixar, além da infraestrutura de promoção de eventos, é realizar atividades onde o desenvolvimento prático de pesquisas e experimentos seja associados conceitos da Engenharia Química e isso possa ser propagado até alcançar outros alunos”, explica.
Fabíola também tem atuado como membro do CLAA, no auxílio à pró-reitoria de graduação, na contabilização e orientação das tarefas dos grupos. A tutora, pela sua experiência no programa, tem sido um braço importante na tarefa de chancelar o planejamento anual dos grupos PET da Rural e auxiliar o comitê a checar a prestação de contas do uso da verba de custeio ao MEC.

Para Fabíola, o legado que ela deixa após 6 anos de trabalho com o PET é ter agregado valor, através do programa, ao curso de Engenharia Química em sua totalidade. Por isso, sua contante luta pelo ensino com valor na formação do aluno que aprende, desenvolve em grupo e individualmente, pesquisa e compartilha o que fez, multiplicando conhecimento em seus variáveis formatos.
Os desafios enfrentados
Em um contexto no qual as universidades passam por muitas limitações, recebendo poucos recursos para investimentos em melhorias e pesquisas repassados para o curso, Fabíola diz que sempre busca soluções para realizar os experimentos necessários, ainda que seja com baixo custo.
“Nessa vertente, trabalhamos dobrado: construindo e desenvolvendo. Os alunos crescem através da proatividade do trabalho em grupo com criatividade do aprendizado teórico. E o mais interessante é que eles mesmos formulam e se preparam para mostrar aos outros colegas depois.Um projeto assim tem muito mais chance de funcionar quando os alunos falam a mesma língua entre si”, explica ela.
A batalha pela extensão do PET Engenharia Química é um aprendizado constante para Fabíola, ao passo que ela foi capaz de compreender a dualidade da categoria de extensão.
“A extensão pode ser endógena e estar, muitas vezes, até onde o professor não vê. Essa capacidade de enxergar está em processos como escutar muito do que os outros grupos fazem, quando fazemos uma semana acadêmica, promovemos uma palestra ou mesmo fora da Universidade, quando participamos de eventos como o Saúde Global do PET Medicina Veterinária e conversamos com a população, dando informações que sejam efetivamente úteis na vida cotidiana das pessoas. Quando a gente consegue que os grupos PET como um todo ajam melhor, passamos a ter mais eficiência e fazemos com que a Universidade nos veja como um grupo importante”, elucida.

Professora Fabíola, com seus petianos, no último Intrapet 2018, ocorrido em agosto desse ano.
O futuro do PET
O FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) é o órgão responsável pelo repasse de verba para o funcionamento das atividades do PET e Fabíola se diz esperançosa para que, em 2019, não exista nenhum tipo de mudança restritiva ou corte ao programa. “A nossa luta é para que não haja sucateamento de nenhuma instituição de ensino, seja da pré-escola ao ensino superior. Nenhuma restrição em relação à quantidade de recursos repassados à educação, que no nosso país já tem uma história tão sofrida, será uma boa modificação. Precisamos agora é agregar valor ao ensino para que tenhamos retornos institucionais”, ela ressalta.
Depois de 6 anos à frente como tutora do PET Engenharia Química, ela está prestes a deixar o cargo no final de 2018. Segundo a professora, sua saída é pela necessidade de oxigenar as funções relacionadas ao grupo e também por precisar focar em seus projetos de pesquisa para além dos grupos PET, como a Pós-Graduação.
Ela sente que seu trabalho contribuiu de forma satisfatória com o intuito de ter continuidade fomentada gerando frutos.
“A minha diretriz sempre foi fazer com que os alunos aprendessem não apenas para cumprir uma prova, mas que esse ensino agregasse, de fato, valor à sua formação. O aluno participa ativamente de todas as etapas: aprendendo, desenvolvendo, pesquisando e propagando a informação com êxito”, reitera.
O legado de Fabíola é uma filosofia de funcionamento de grupo onde seja fomentado não só a atividade, o trabalho em grupo e o desenvolvimento individual dos alunos, mas também onde seja agregado valor ao curso inteiro de Engenharia Química da UFRRJ, alcançando também a multiplicação do conhecimento nos aspectos humanos e técnicos.
“Trabalhar com muitos alunos ao mesmo tempo e fazer com que eles funcionassem juntos apesar das diversidades foi o que mais me forneceu crescimento pessoal como tutora do PET. Ver o sucesso dos alunos quando estão saindo me dá uma satisfação muito grande. Isso mostra que consegui transmitir valores e aprendizado de diferentes formas, para além das vivências acadêmicas”, conclui a tutora.